S. Roque exibe desenhos "perdidos" de jóia do barroco
A custódia em ouro que fazia parte do tesouro da Capela de S.João Baptista na Igreja de S.Roque, en comendada em 1742 por D. João V aos mais reputados artistas da época, Luigi Vanvitelli e Nicolas Salvi, com a supervisão do arquiteto do reino, o alemão João Frederico Ludovice, terá sido derretida para ajudar a custear a recuperação de Lisboa depois do terramoto de 1755.
Sem fotografias, filmes ou instagram, não restaria se não a sua descrição, não se desse o caso de o caderno de encargos desta obra, conhecido como álbum Weale, incluir um desenho rigoroso deste exemplar de ourivesaria que viria a servir de inspiração para as gerações seguintes de ourives, como é o caso da custódia da Bemposta, da autoria de Mateus Vicente de Oliveira, discípulo de Ludovice.
O esboço pode ser visto no Museu da igreja de S. Roque, em Lisboa, no âmbito da exposição Encomenda Prodigiosa - Da Patriarcal à Capela Real de S. João Baptista, que pode ser vista até 29 de setembro. Trata-se do segundo pólo de uma exposição que está também patente no Museu Nacional de Arte Antiga (ver caixa).
É a primeira vez que este e outros desenhos são exibidos. O documento esteve perdido durante anos, vítima de desconhecimento e má catalogação.
Organizado e compilado por Manuel Pereira de Sampaio, o homem de negócios de D. João V em Roma, centro de diplomacia mundial na primeira metade do século XVIII, o álbum Weale é na verdade o Libre degli Abozzi di Disegni delle Commissioni Che si Fanno per Ordine della Corte [Livro de Esboços de Desenhos da Comissão que se Faz por Ordem da Corte]. Contém informações sobre a encomenda da capela da arquitetura às pinturas, passando pelos mais pequenos bordados dos paramentos ou as caixas usadas no transporte da capela de Roma até Lisboa em três naus. "Foi de extrema importância durante o restauro da capela [entre 2011 e 2012] pois deu novas luzes sobre a sua construção", explica ao DN Teresa Morna, diretora do Museu de S. Roque.
A exposição "Encomenda Prodigiosa - Da Patriarcal à Capela Real de S. João Baptista" reparte-se pelo Museu Nacional de Arte Antiga e o Museu de S.Roque. Na rua das Janelas Verdes contextualizam-se as encomendas de D. João, a começar pela da Basílica Patriarcal, aquela que primeiro interessa ao monarca: transformar a capela real do Paço da Ribeira, hoje Terreiro do Paço, numa igreja feita à imagem e semelhança da basílica de S. Pedro, como maneira do rei, fortemente inspirado pelo exemplo francófono e Luís XIV, afirmar o seu poder (no momento em que se dizia que as remessas de ouro e diamantes do Brasil estavam a diminuir). Deste monumento - de que a Capela de S. João Baptista é uma amostra - restam apenas algumas peças. Ardeu no incêndio que lavrou na cidade de Lisboa após o terramoto de 1755.
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